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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

SANTO DIAS


Por Alexandre Mendes

Santo Dias da Silva, operário paulista, foi um dos grandes exemplos na luta pelos direitos dos metalúrgicos, durante a ditadura militar. Nascido em Terra Roxa, no interior de São Paulo, em 22 de fevereiro de 1942. Trabalhava na roça de café, com seu pai e irmãos, como meeiro. 
A partir de 1960, Santo e outros trabalhadores da Fazenda Guanabara mobilizaram-se contra a forma de participação nos lucros da colheita (obtinham o alimento no armazém fiado durante o decorrer do ano e recebiam pouco dinheiro, após descontos). O dono da fazenda dispensou sua família e as demais que participaram do movimento.
 Mudou-se para Viradouro e passou a trabalhar com sua família como bóia-fria. Tentou lutar por condições melhores no novo ofício e foi novamente dispensado. 
Em outubro de 1962, deixou sua família e foi tentar a sorte na capital. Conseguiu um emprego de ajudante geral na Metal Leve, empresa de componentes metalúrgicos. Participou de sua primeira greve por aumento salarial e instituição do 13º. Aquele ambiente politizado (metalúrgicos) mudou seu destino... 
Casou-se em 1965, ano em que nasceu seu primeiro filho. Em 1967, participou da formação da Oposição Sindical, que consistia na idéia de um comando gerado dentro de cada fábrica. O movimento contava com a participação de católicos, marxistas e operários independentes. Ainda nesse ano, nasce sua filha.
    A sucessão de greves e passeatas ocorridas no ano de 1968, resultaram no endurecimento da ditadura e a institução do AI-5. A Oposição Sindical lança a chapa verde, concorrendo às eleições do Sindicato, mas perde, devido às propostas populistas da chapa situacionista. As greves se alastram por São Paulo e Minas Gerais e a polícia recrudesce e ocupa os locais. Santo Dias, além de estar envolvido com a oposição do Sindicato dos Metalúrgicos, torna-se líder comunitário onde residiu na época (Jardim Margarida). Lembra a esposa dele, Ana Maria do Carmo Dias: " Nessa época, a repressão era tanta que a gente ia comprar pão na padaria juntos, eu e o Santo, com medo de ser presos se fôssemos sozinhos". 
Em 1972, Santo foi trabalhar na Burndy do Brasil, onde organizou a comissão de fábrica, mas foi demitido. A Oposição Sindical Metalúrgica criou o grupo chamado Interfábricas. Santo Dias teve uma significativa participação no projeto. Passava madrugadas panfletando em portas de fábricas, com sua mulher e ajudava os moradores da sua comunidade. 
Em 1973, intensificam o número de greves. Santo volta a trabalhar na Metal Leve. A Oposição é atingida pela prisão de cinquenta militantes em 1975, anulando a possibilidade de concorrer às eleições do ano. Entretanto, sob o lema "Trabalhar dentro da fábrica", promoveram ações nas comunidades, com a reivindicação de escolas, creches, água, luz, regularização dos loteamentos clandestinos e contra o alto custo de vida. Criaram fundos de greves, prestando ajuda aos que perdiam o emprego. 
Em julho de 1978, a Oposição concorre às eleições com Santo para vice. Em 1978, perde o emprego na Metal Leve, estratégia dos situacionistas, a fim de impedir sua candidatura. Consegue às pressas um emprego na Alfa Brás. As eleições acontecem, mas a chapa situacionista vence, por meio de fraude: " ...via-se claramente que a urna e os votos tinham sido trocados. Uma pessoa só fez o x nas cédulas." Tentaram três mandados de segurança contra a posse irregular e perderam. Santo Dias é demitido da Alfa Brás em 1979. A repressão intensifica e Santo assume o comando das greves, como um de seus integrantes. Decidiu ajudar em um piquete à frente da Fábrica Sylvania, em 30 de outubro de 1979. Com a prisão de um dos grevistas, Santo pediu que o soltassem, mas foi negado seu pedido. Conformado, deu às costas para a polícia. O policial militar Herculano Leonel, sem motivo aparente, apontou sua arma para Santo Dias e lhe deu um tiro nas costas. Os soldados  jogaram seu corpo no camburão e o levaram para o Pronto-Socorro, já sem vida. Parentes e amigos correram para lá, afim de evitar que seu corpo sumisse. Seu enterro foi concorrido, com discursos, inclusive o do sindicalista Lula.
   A partir daí, todos os anos, no dia 30 de outubro, às 14:00(horário de sua morte), pintam de vermelho, em frente à Fábrica Sylvania: 
"Em 30 de outubro de 1979, aqui foi assassinado pela PM o operário Santo Dias da Silva, defendendo os direitos da classe trabalhadora".
Depois caminham até seu túmulo, onde prestam homenagens.
Santo Dias era um homem inconformado com as mazelas do sistema e não deixou se dobrar. 

2 comentários:

  1. É triste saber que muitos morrem por defender os direitos de outros. O mesmo aconteceu com Libero Badaró por defender o liberalismo na época de Dom Pedro e infelizmente a nossa história está repleta de desfechos como este.

    Bjs meu querido!

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  2. Olá
    Vi seus comentários no blog Red Rose e fiquei com curiosidade de conhecer seu espaço.
    Gostei bastante do que vi, inclusivamente deste seu último post.
    Não só no Brasil mas também em Portugal muitas pessoas morreram por não abdicarem das suas ideias e de seus ideais. Felizmente as coisas mudaram... nesse aspecto :)

    Se me permite vou fazer-me sua seguidora, e se quiser visitar o meu blog - A CASA DA MARIQUINHAS - dar-me-á muito prazer.

    Semana feliz. Beijinhos

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