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terça-feira, 7 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XV



Por: Alexandre Mendes



O réptil rastejou completamente para fora da palha, levantando a cauda e inquietando o cavalo. Nonó despertou rapidamente com a presença da cobra. Observou os anéis coloridos na parte dorsal do bicho e deduziu ser uma coral. Ergueu a pistola na direção da cabeça da cobra e, sem pensar duas vezes, apertou o gatilho. Para o seu azar, esqueceu de destravar a arma e o engatilhar da peça foi em vão. Assim que a coral pressentiu o movimento brusco, armou o bote rasteiro, mordendo a perna esquerda de Nonó. A mulher deu um grito de dor, acordando Alcebíades e Odimar. O jovem rapidamente sacou o facão da cintura e atirou-se em direção a cobra. Observou o animal e também chegou a conclusão de que se tratava de uma cobra coral. Mirou o facão na cabeça do bicho e desceu a lâmina no alvo, cortando a coral no meio. Sua cabeça se desprendeu da perna de Nonó e caiu no solo, contorcendo-se. Odimar mirou novamente o facão na cabeça da coral, esfacelando-a.

Enquanto isso, Alcebíades socorria Nonó. Observou a mordida da cobra em sua perna e constatou uma pequena marca de presas. Apesar de estarem localizadas no fundo de sua boca, dificultando a mordida, as presas da coral chegaram a cravar na carne de Nonó.  Alcebíades pegou o cantil de água e lavou o local da ferida. Abocanhou a perna de sua mulher, sugando o veneno peçonhento de suas entranhas. Nonó gemia de dor, enquanto Alcebíades cuspia a mistura de sangue e líquido letal. Limpou o céu da boca, fazendo bochecho com a água do cantil. Nesse momento, Odimar pegou a garrafa de cachaça e um trapo, para fazer o curativo na perna de Nonó.

- Calma, mãe. Vai acabar tudo bem. – Disse Odimar, enquanto limpava a ferida com o álcool.

A princípio, Nonó chorava convulsivamente. Assim que a dor cessou, sua perna começou a ficar dormente. Sentiu uma forte falta de ar, fazendo com que se sentasse novamente sobre a palha. Alcebíades pegou uma camisa remendada na bolsa e a abanou na direção do rosto de Nonó, pois percebia a sua agonia.

Odimar olhou para o céu e concluiu que ainda deveria ser meia noite. A manhã demoraria a chegar. Sabia que sua mãe precisava de socorro, mas que não havia a menor possibilidade de prosseguir o caminho no escuro. Acreditava que a cidade de Chiponápolis deveria estar a umas doze horas de onde estavam e, portanto, só conseguiriam socorro no dia seguinte.

Alcebíades pediu ao filho que o ajudasse a colocar Nonó deitada no leito improvisado, pois ela estava desmaiada. Colocou a mão sobre a testa de Nonó e constatou que estava com febre. Molhou a camisa velha com a água do cantil e colocou-a sobre a testa de sua esposa.

-Parece que a noite vai ser longa, pai. – Disse Odimar, enquanto alimentava a fogueira com os gravetos.




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