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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XX

Por: Alexandre Mendes



Odimar percebeu o barulho do automóvel e colocou a mão na pistola, por baixo da camisa. Alcebíades viu a atitude do filho e o imitou, pois também ouvira a freada brusca.

Em seguida, o bater de portas do carro, fazia parecer que algo furioso surgiria na entrada da porta dos medicamentos.

Odimar já estava com o dedo no gatilho, mas a arma ainda estava na cintura.

Alcebíades tocou o cabo da arma, mas não chegou a enfiar o dedo no gatilho.

Um homem, com chapéu de couro e botinas marrons, surgiu na porta. Portava em sua mão direita, um revólver calibre trinta e oito, cano longo.

Odimar identificou o homem no ato: ele era um dos jagunços da Fazenda Pirucutú.

Um segundo homem entrou pela porta. Era baixo e tinha a cara larga. Usava camisa de vaqueiro, pistola e chicote, enrolado na cintura. Odimar o reconheceu. Era Estênio, o filho de Seu Sebastião. O cabra havia vindo da capital, só para encontrar o seu pai. Foi a procura dele, pelas matas próximas e acabou encontrando o corpo de seu pai, na casa de Alcebíades. Sem dúvida nenhuma, ele estava a procura de vingança.

Estênio olhou para a cena triste, de um pai e um filho, velando pela mãe, no chão de um socorro médico e, no entanto, não se comoveu. Estênio apontou a pistola para a frente e atirou sem mirar. – São eles!

Odimar sacou a arma, mas antes de conseguir destravá-la, o jagunço que acompanhava Estênio atirou, acertando Alcebíades na barriga. O velho sentiu a dor da bala entrando em seu abdômem. Mesmo assim foi homem, o suficiente para sacar a arma e atirar no peito do jagunço, três vezes. O homem desabou no chão.

No exato momento em que Estênio deu o primeiro tiro, Odimar conseguiu destravar a pistola. Ele descarregou a arma na direção dos homens. Estênio levou a maioria dos tiros e caiu para trás. O capanga foi alvejado pelos dois, ao mesmo tempo, e seu corpo despencou no solo.

A mulherzinha do posto deitou no chão e não se feriu. Odimar percebeu, também, que não havia se ferido. Correu na direção do seu pai, que agonizava no chão.

- Pai, calma! Vai ficar tudo bem. Enfermeira! Me ajude, aqui! – Gritava Odimar, pegando o pai em seus braços.

- A sua mãe...cuide da sua mãe... – Balbuciava Alcebíades.

- Não, pai! Não diga nada! Enfermeira, socorro!

Já era tarde: Alcebíades olhou para o alto, deu o último suspiro. A sua cabeça caiu para trás. Os olhos ficaram imóveis.

- Pai! Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! – Gritou Odimar, abraçando o corpo flácido de Alcebíades. “Malditos!” – Pensou ele. “Nos exploraram, deixando a gente viver na miséria e, agora, ainda querem nos matar!”

Odimar lembrou-se daquele episódio triste que vivera nas mãos de Estênio, das vinte chibatadas. Depositou seu pai no solo e se levantou, parecendo estar enfurecido. Caminhou na direção do corpo de Estênio e começou a chutá-lo, incessantemente.

- Desgraçado! Porco! Filho de uma quenga! – Vociferava Odimar, enquanto descarregava o seu ódio.

Foi, então que, quando se lembrou das últimas palavras de seu pai, parou com os chutes e olhou para a sua mãe.

Nonó parecia dormir um sono profundo, mas suas pálpebras estavam entreabertas.

Odimar se aproximou da mãe e não conseguiu acreditar no que viu: a bala de Estênio acertara o pescoço de Nonó. O sangue escorria com o aspecto consistente, do buraco da bala.

Odimar se abaixou e abraçou a sua mãe. Chorou por alguns instantes. Só conseguia pensar em todos os momentos bons que vivera, com seus pais. Foram poucos, mas, em algum momento, poderá dizer que teve uma família.

Aprendeu mais uma lição em sua vida, com tudo que acontecera ali, mas jurava para si mesmo, que nunca contaria isso para ninguém.

Revistou os corpos de Estênio e do jagunço. Se apossou de tudo que achou útil.

Deu uma última olhada para os seus pais e despediu-se, com um beijo jogado ao vento.

Olhou ao redor e viu a reação do povo. Alguns, deitados nas macas, em silêncio (fingindo estarem mortos), e outros, deitados no chão.

Odimar caminhou até o cavalo e o dasamarrou do poste. Deu a última olhada para trás, com os olhos avermelhados de tanto chorar. “Adeus, mãe! Adeus, pai!”

Montou no cavalo e se dirigiu em direção ignorada.

Nunca mais voltou para aquelas cercanias. Mas a história dessa família é contada pelos habitantes da cidade, até os dias de hoje.



Fim




5 comentários:

  1. Depois que agora já li, amanhã às escondidas no serviço, vou imprimir aos poucos cada parte para que eu possa reler também no ônibus, nas 4 e meia diária por dia, ou almoçando, ou antes de dormir. Qualquer hora mesmo sem energia elétrica, de qualquer maneira. Parabéns!

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  2. É isso
    Meus parabéns por mais essa empreitada

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  3. Grande saga, reflexo de muito do que ainda ocorre no interiorzão afora.

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  4. Meu amor,te pedi tanto um final feliz para essa família...
    Não gostei do final.

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