Entre muros e favelas é um longa-metragem colorido, feito numa parceria Brasil/Alemanha em 2005, comdireção, câmera e edição de Susanne Dzeik, Márcio Jerônimo e Kirsten Wagenschein. Produzida por A Trever, Ak Kraak e TV Tagarela, a obra é bastante forte, estarrecedora até. Não é fácil encarar os 55 min do filme sem desviar os olhos. Mas indubitavelmente é uma realidade que precisa ser vista.
O documentário se vale de histórias reais de famílias que moram em favelas do Rio de Janeiro, em específico, Caju, Borel e Mandela, para mostrar a opressão e o preconceito de que é vítima a população pobre, principalmente a favelada.
É mostrado que o fenômeno das favelas, sobretudo na região sudeste brasileira, teve sua gênese nas décadas de 40 e 50, quando houve o primeiro grande fluxo migratório para essa área. Depois, durante a década de 70, houve um novo fluxo migratório, incentivado por veículos de comunicação de massa, como a Rede Globo de Televisão, a qual propagava a ideia de que o sudeste brasileiro era um paraíso. Tal ilusão era promovida para amenizar a tensão social no campo (favorecendo o latifúndio) e – ao mesmo tempo – gerar um contingente de desempregados nas grandes cidades, que permitisse uma redução geral dos salários (com tanta gente sem emprego, seria fácil encontrar quem trabalhasse quase de graça).
Só que essas pessoas iriam morar onde? Não havia habitação regular para elas. Aí surgiram as favelas, tão combatidas pela classe rica, mas nascidas pelo interesse dessa mesma burguesia.
Os favelados que não obtinham empregos ou que não se sujeitavam a trabalhar pelo salário de fome tradicionalmente pago pela elite brasileira acabaram sendo cooptados pelo tráfico de drogas. O filme demonstra ainda que o próprio narcotráfico é também um investimento bilionário da classe dominante e que encontra no morador de favela uma mão de obra barata. O dinheiro do crime organizado está na bolsa de valores, no financiamento de campanhas eleitorais, em transações financeiras de âmbito internacional, que requerem todo um aparato técnico desconhecido daquele que a mídia corporativa apresenta ao público como sendo o “grande traficante” (geralmente negro, iletrado, nascido e criado nalguma comunidade carente).
Em “Entre Muros e Favelas”, o pobre não é idealizado, mostrado como alguém necessariamente bom, cheio de qualidades nobres, como fazem algumas telenovelas globais demagógicas. Simplesmente o que é mostrado no documentário é como esse pobre é, de fato, dando a ele a oportunidade de se expressar, oportunidade sempre tolhida pelos veículos de comunicação massificantes, dos quais são exemplo a Rede Globo de Televisão – não por acaso surgida durante a ditadura militar brasileira (1964-1985).
Para escapar da ditadura que nos cerca ainda hoje (uma ditadura do capital, com roupagem de democracia) é preciso assistir a filmes como “Entre Muros e Favelas” e não porcarias televisivas policialescas apresentadas por Wagner Montes, Datena e outros autoritários que enaltecem a repressão e atacam os que lutam por direitos humanos e justiça social.