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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XX

Por: Alexandre Mendes



Odimar percebeu o barulho do automóvel e colocou a mão na pistola, por baixo da camisa. Alcebíades viu a atitude do filho e o imitou, pois também ouvira a freada brusca.

Em seguida, o bater de portas do carro, fazia parecer que algo furioso surgiria na entrada da porta dos medicamentos.

Odimar já estava com o dedo no gatilho, mas a arma ainda estava na cintura.

Alcebíades tocou o cabo da arma, mas não chegou a enfiar o dedo no gatilho.

Um homem, com chapéu de couro e botinas marrons, surgiu na porta. Portava em sua mão direita, um revólver calibre trinta e oito, cano longo.

Odimar identificou o homem no ato: ele era um dos jagunços da Fazenda Pirucutú.

Um segundo homem entrou pela porta. Era baixo e tinha a cara larga. Usava camisa de vaqueiro, pistola e chicote, enrolado na cintura. Odimar o reconheceu. Era Estênio, o filho de Seu Sebastião. O cabra havia vindo da capital, só para encontrar o seu pai. Foi a procura dele, pelas matas próximas e acabou encontrando o corpo de seu pai, na casa de Alcebíades. Sem dúvida nenhuma, ele estava a procura de vingança.

Estênio olhou para a cena triste, de um pai e um filho, velando pela mãe, no chão de um socorro médico e, no entanto, não se comoveu. Estênio apontou a pistola para a frente e atirou sem mirar. – São eles!

Odimar sacou a arma, mas antes de conseguir destravá-la, o jagunço que acompanhava Estênio atirou, acertando Alcebíades na barriga. O velho sentiu a dor da bala entrando em seu abdômem. Mesmo assim foi homem, o suficiente para sacar a arma e atirar no peito do jagunço, três vezes. O homem desabou no chão.

No exato momento em que Estênio deu o primeiro tiro, Odimar conseguiu destravar a pistola. Ele descarregou a arma na direção dos homens. Estênio levou a maioria dos tiros e caiu para trás. O capanga foi alvejado pelos dois, ao mesmo tempo, e seu corpo despencou no solo.

A mulherzinha do posto deitou no chão e não se feriu. Odimar percebeu, também, que não havia se ferido. Correu na direção do seu pai, que agonizava no chão.

- Pai, calma! Vai ficar tudo bem. Enfermeira! Me ajude, aqui! – Gritava Odimar, pegando o pai em seus braços.

- A sua mãe...cuide da sua mãe... – Balbuciava Alcebíades.

- Não, pai! Não diga nada! Enfermeira, socorro!

Já era tarde: Alcebíades olhou para o alto, deu o último suspiro. A sua cabeça caiu para trás. Os olhos ficaram imóveis.

- Pai! Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! – Gritou Odimar, abraçando o corpo flácido de Alcebíades. “Malditos!” – Pensou ele. “Nos exploraram, deixando a gente viver na miséria e, agora, ainda querem nos matar!”

Odimar lembrou-se daquele episódio triste que vivera nas mãos de Estênio, das vinte chibatadas. Depositou seu pai no solo e se levantou, parecendo estar enfurecido. Caminhou na direção do corpo de Estênio e começou a chutá-lo, incessantemente.

- Desgraçado! Porco! Filho de uma quenga! – Vociferava Odimar, enquanto descarregava o seu ódio.

Foi, então que, quando se lembrou das últimas palavras de seu pai, parou com os chutes e olhou para a sua mãe.

Nonó parecia dormir um sono profundo, mas suas pálpebras estavam entreabertas.

Odimar se aproximou da mãe e não conseguiu acreditar no que viu: a bala de Estênio acertara o pescoço de Nonó. O sangue escorria com o aspecto consistente, do buraco da bala.

Odimar se abaixou e abraçou a sua mãe. Chorou por alguns instantes. Só conseguia pensar em todos os momentos bons que vivera, com seus pais. Foram poucos, mas, em algum momento, poderá dizer que teve uma família.

Aprendeu mais uma lição em sua vida, com tudo que acontecera ali, mas jurava para si mesmo, que nunca contaria isso para ninguém.

Revistou os corpos de Estênio e do jagunço. Se apossou de tudo que achou útil.

Deu uma última olhada para os seus pais e despediu-se, com um beijo jogado ao vento.

Olhou ao redor e viu a reação do povo. Alguns, deitados nas macas, em silêncio (fingindo estarem mortos), e outros, deitados no chão.

Odimar caminhou até o cavalo e o dasamarrou do poste. Deu a última olhada para trás, com os olhos avermelhados de tanto chorar. “Adeus, mãe! Adeus, pai!”

Montou no cavalo e se dirigiu em direção ignorada.

Nunca mais voltou para aquelas cercanias. Mas a história dessa família é contada pelos habitantes da cidade, até os dias de hoje.



Fim




terça-feira, 28 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XIX


Por: Alexandre Mendes



   Desceram a colina, depressão abaixo, na direção de uma casa feita de tijolo queimado e telha de amianto. Antes de chegaram até a porta, guardaram as armas nas cinturas. Um cachorro surgiu dos fundos da casa, latindo no pé do cavalo. Antes que Odimar pudesse bater na porta, ela foi aberta, com o escândalo do vira lata. Um homem de barba negra e comprida atendeu a porta.

- Pois, não. – Disse o homem, estalando os dentes. Parecia ter algum tipo de resto de comida, agarrado entre eles. – Silêncio! Catucha!

- Boa tarde. Nós estamos andando pela mata, há muitas horas. Estamos morrendo de sede e, essa senhora, quer dizer, a minha mãe foi mordida por uma cobra coral. Precisamos de ajuda.

- O hospital público fica há quinze minutos daqui. Vou pegar água pra vocês. Depois, eu os guio até lá.

- Muito obrigado, meu amigo! – Agradeceu Alcebíades, enquanto verificava a febre de Nonó.

Mataram a sede com aquela água tratada e estranharam o sabor de cloro.

Acompanharam o homem pelas ruas de paralelepípedo. As calçadas eram bem estreitas e, em alguns trechos, eram obstruídas por tufos de matos. O vai e vem de cavalos e seus donos era, frequentemente, interrompido pelos caminhões de placas longínquas.

Os casebres se amontoavam, lado a lado. O comércio local era constituído por pequenos armarinhos, com todo tipo de bugiganga disponível e botecos, com grandes prateleiras de tábua, repletas de garrafas de cachaça e seus consumidores.

O homem apontou para o fim da rua. – Vejam! Podem desamarrar a senhora que já chegamos!

Contemplaram a pequena praça, anexa ao tal hospital, que na verdade, mais parecia um pequeno posto de saúde.

Odimar pôs-se a desatar Nonó do cavalo. Alcebíades amarrou a rédea no poste. O filho, então, pegou a sua mãe no colo e adentrou o portão enferrujado do ambulatório.

O posto de saúde era bem simples, com paredes sujas de barro e marcas de mão. Em volta da porta, havia algumas cadeiras velhas de madeira podre, ocupadas por dezenas de pessoas sentadas, aguardando o atendimento. A fila excedia o número de cadeiras e tomava forma de minhocão, até o portão principal.

Alcebíades cantarolou na porta do ambulatório: - Olaá! Tem alguém aií?

Uma senhora gorda de jaleco branco e óculos aro grosso, apareceu na porta, olhou a situação e pediu que trouxessem a mulher para dentro, causando palavras de revolta na fila.

- O quê foi que aconteceu com ela? – Perguntou a senhora, olhando para o relógio.

- Ela foi mordida por uma cobra coral.

A mulher pediu que Odimar colocasse a enferma no chão gelado do posto, no canto da parede. Todas as macas disponíveis estavam ocupadas por moribundos agonizantes. Ela não seria a única a ser atendida no chão: Uns dez doentes, já lhe faziam companhia.

A mulher do posto tirou a tala do ferimento e sentiu o mau cheiro:

- È... acho que está infeccionando. – Disse ela, dirigindo-se a uma porta, com a palavra “Medicamemto”, escrita a mão, em sua face externa.

- A senhora é a médica? – Perguntou Alcebíades para a mulher, que se ocupava de preparar um medicamento intravenoso.

- Médica? Eu? – Debochou a funcionária. – Meu filho, não aparece um médico por aqui, faz uns dois anos. Mas, temos medicamentos que ainda estão na validade. Isso já basta!

   Preparou o escalpo e pendurou o soro em um prego previamente posto na parede, com esse objetivo. Aplicou o remédio na veia de Nonó, que ainda balbuciava palavras delirantes.

- O mar...o mar...que mato vermelho!

- Pronto! Agora é só esperar a febre baixar. Vai acabar tudo bem! – Disse a funcionária “Bombril”. – Vamos fazer a fichinha dela, então?

De repente, os gemidos dos moribundos foram abafados pelo cantar de pneus, no exterior do posto.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XVIII



Por: Alexandre Mendes

Argumento: Fabio da Silva Barbosa



Antes de ir, Alcebíades entrou no mato para satisfazer suas necessidades fisiológicas.

Odimar verificou a pistola e a colocou no lado direito da cintura. Limpou a lâmina do facão, com um trapo velho e o amarrou do lado esquerdo.

Alcebíades levou o trinta e oito com ele.  “Só Deus sabe, o que me espera dentro do mato!” – Pensou o velho, com o revólver na mão.

Nonó acordou com o barulho que os dois faziam. Viu seu filho, guardando os objetos no lombo do cavalo. Ela estava morrendo de sede. Levantou mancando, por causa da mordida da cobra na perna e se aproximou de Odimar.

- Meu filho, eu tive um pesadelo horrível! Cadê o seu pai?



- Ora, ele está aqui. – Disse Odimar, apontando para o canto da mata.



-Onde? - Nonó não via Alcebíades, mas o escutava, como se estivesse saindo de dentro do mato. Fixou os olhos na direção da voz e seu coração palpitou muito forte, quando o capim se abriu e, de dentro dele, saiu o seu marido. Estava delirando.

- Meu bem, deite-se! Você precisa repousar! – Disse Alcebíades, colocando o revólver na cintura.

A mulher enlouqueceu. Tentou correr, mas Odimar a impediu, segurando a mãe pelo braço. Nonó encarou o filho e parecia ver uma assombração.

- Quem são vocês? Cadê minha família? AAAAAAAAAAAAA! – gritava Nonó, enquanto tentava se libertar das mãos de Odimar, que agora tentava lhe dar um abraço. A pobre mulher despencou nos braços do filho: um desmaio. A febre estava aumentando.

Odimar posicionou sua mãe, deitada de barriga para cima e amarrada no dorso do animal. Improvisou uma almofada para ela, com uma trouxa feita de trapos velhos.

Estava tudo pronto. Alcebíades pegou o animal pela rédea. Jogou o último gole de água do cantil, na boca de Nonó.

Odimar foi na frente, com o facão em riste, aparando  o matagal.

Caminharam por horas a fio, podando o mato em revezamento. As gargantas secas como a brisa da manhã.

Os pássaros cantavam, enquanto o sol subia no céu. “Vai fazer um calor daqueles!” – Pensou Odimar. Eles quase não se falavam, para poupar a saliva que já não tinham.

Quando o sol chegou no centro do céu, indicando meio dia, Odimar tinha certeza que já estavam próximos de Chiponápolis.

Enquanto isso, Nonó despertava do sono. Começou a balbuciar coisas sem sentido.

- São Cosme e São Damião... cadeira, cachorro, pedrinha!

-Mãe! Fique tranqüila que já estamos chegando! – Disse Odimar, enquanto aparava a mata.

- O ônibus pra Rivadávia...mato da porteira... a cor do peixe é azul...

Caminharam por mais umas três horas e, finalmente, chegaram a entrada de uma depressão. Podiam ver, de onde estavam, as primeiras casas surgindo no horizonte.

- Estamos chegando, Filho! Estamos chegando! – Disse Alcebíades, visivelmente emocionado.








Para quem curte som extremo

Por: Fabio da Silva Barbosa

 
Fala aí, camaradas
Estou montando um programa de som underground em uma rádio daqui de Niterói (RJ) e estou entrando em contato com todos para pedir material promocional e de divulgação para ser sorteado durante o programa (cds, camisas, zines, dvds... enfim... o que tiver disponível).
Quem quiser aproveitar o canal para divulgar seu trabalho e ainda apoiar essa iniciativa é só entrar em contato pelo e-mail
fsb1975@yahoo.com.br

Novidades sobre o programa:
É o seguinte:
O programa se chamará Hora Macabra e a rádio é a Oceânica (uma rádio daqui de Niterói-RJ), 105.9 FM, que pode ser ouvida também pela internet (WWW.RADIOOCEANICAFM.COM.BR). O horário do programa (que
estarei realizando com o amigo Victor Laureano) será de meia noite à uma da manhã.
Começaremos na próxima sexta (semana que vem).
O público alvo é a galera que curte som underground (punk rock, hard core, metal, trash, grind, crust, crossover, noise, death... Enfim... O universo underground exposto pra quem gosta). Levaremos sempre alguma banda, produtores de zines e a galera que faz pela cultura de resistência para bater um papo.
Estamos precisando de ajuda na divulgação, apoio de quem puder mandar material de divulgação e promocional para tocarmos e sortearmos e de quem quiser colocar anúncios.
Grande abraço a todos.
FSB

sábado, 25 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XVII



Por: Alexandre Mendes
Argumento: Fabio da Silva Barbosa


Algumas horas após o incidente, Odimar e Alcebíades continuavam acordados, alertas para todos os perigos que uma noite no interior da mata, poderia lhes proporcionar.

- Tudo bem, filho. Descanse um pouco. Eu cuido de sua mãe. – Disse Alcebíades, enquanto acariciava os cabelos de Nonó.

- Acho que não vou conseguir mais pregar os olhos, depois disso. Sem contar que vamos precisar de mais lenha para a fogueira. – Disse Odimar, fitando a sua mãe deitada no solo, entorpecida e febril.

- Então, deixa que eu me viro com a fogueira. Cuida da sua mãe, aqui.

Odimar obedeceu seu pai. Estava muito cansado e dolorido, por manusear o facão durante horas. Suas costas latejavam. Por isso, sentou-se ao lado de sua mãe e averiguou a febre que a acometia. Acreditava que todos os cuidados possíveis com ela, naquele lugar, já tinham sido providenciados. A picada não havia sido tão profunda e o clarear do dia, não tardaria.

Enquanto Alcebíades manuseava o facão com o braço são, pela mata a dentro, Odimar se distraiu em seus pensamentos e acabou pegando no sono, ao lado de sua mãe.

Nonó abriu os olhos, ainda deitada. Parecia estar delirando, dormindo acordada. Olhou ao redor e sua face enrubesceu, com uma expressão de horror. Parecia estar vendo o invisível.

- Odimar! Alcebíades! – Chamou a mulher, completamente atordoada.

Odimar se mexeu no leito, mas não acordou: estava profundamente adormecido.

Nonó levantou-se, lentamente, enquanto observava apavorada o entorno da clareira.

- Alcebíades! Odimar!

Dessa vez, Odimar acordou. A pobre mulher estava histérica.

- Família! Família! – Gritou Nonó.

Odimar ergueu seu corpo do solo, indo ao encontro de sua mãe.

- Aaaaaaaaaaaaaah! Socorro! – Gritou Nonó, enquanto se levantava para correr.

- Calma,mãe! Calma! – Pediu o filho, pegando Nonó pelo braço.

Nonó olhou, com cara de quem queria chorar, para o lado e viu seu filho. Deu meia volta, cambaleou, até o leito, e adormeceu.

Alcebíades pegou a palha suficiente para manter a fogueira acesa, até o amanhecer.

Sentou-se próximo ao fogo, esticando as suas pernas.

Odimar sentou perto de Nonó, mas não dormiu. Ficou de guarda, o resto da noite.

    Quando a sol da manhã despontou no horizonte, Odimar começou a arrumar os objetos no dorso do cavalo. O animal parecia estar sedento, mas a água já estava no fim. Odimar sabia que eles teriam que andar em ritmo acelerado, até a cidade.






quarta-feira, 22 de junho de 2011

A ficção imita a realidade

Por: Alexandre Mendes

 Passei pela sala e parei para ver o desenho que meu filho estava assistindo. Lula Molusco estava carregando várias tralhas e ia pegar o elevador social. Senhor Siriguejo estava dentro e disse:
- Este elevador não é para os empregados! Você tem que pegar o elevador de serviço!
Então, Lula Molusco apertou o botão do elevador de serviço e quando a porta se abriu, advinha:
Havia uma escada, repleta de degraus!

domingo, 19 de junho de 2011

Sol e Lágrimas – Cap. XVI


 
Por: Alexandre Mendes

Participação especial (Argumento): Fabio da Silva Barbosa



Parecia estar de olhos abertos, no entanto, ainda estavam fechados. Olhou ao seu redor e percebeu que não estava mais no interior da mata. Seu marido e seu filho também não estavam
mais ao seu lado. Estava em um lugar que, aparentemente, não possuía formas físicas ou cores, Era como se Nonó estivesse no centro de uma lanterna gigante acesa. A sua vista lacrimejava de acordo com que ela insistia em olhar ao redor.

- Odimar! Alcebíades! – Chamava a mulher, completamente atordoada.

De repente, a claridade foi diminuindo de intensidade e Nonó começou a enxergar formas físicas que se delineavam ao redor.

- Alcebíades! Odimar!

Como se estivesse acontecendo uma sucessão de trovoadas em seus ouvidos, o som de diversas gargalhadas diabólicas ao redor de Nonó, fez com que a pobre mulher entrasse em pânico.

- Família! Família!

Recuperou a visão, mas não acreditava no que via: Estava sentada no meio da clareira e, em torno dela, giravam em roda dezenas de sacis. As gargalhadas deles eram ritmadas por uma dança desconhecida.

- Aaaaaaaaaaaaaaah! Socorro! ­– Gritou Nonó, enquanto se levantava para correr.

- Calma, mãe! Calma! – Era a voz de Odimar. O rapaz segurou em seu braço.

Nonó olhou para o lado e viu seu filho. Os sacis haviam desaparecido.

- Meu filho, eu tive um pesadelo horrível! Cadê o seu pai?

- Ora, ele está aqui. – Disse Odimar, apontando para o canto da mata.

-Onde? - Nonó não via Alcebíades, mas o escutava, como se estivesse saindo de dentro do mato. Fixou os olhos na direção da voz e seu coração palpitou muito forte, quando o capim se abriu e, de dentro dele, uma mula sem cabeça surgiu. No lugar da cabeça, uma chama intensa. A mula emitia sons parecidos com a voz de Alcebíades.

- Meu bem, deite-se! Você precisa repousar! – Disse a mula sem cabeça.

Seus olhos esbugalharam quando viram aquela assombração. Tentou correr, mas Odimar ainda segurava o seu braço. Olhou para o rapaz e quase terminou de ter um enfarte: Havia algo estranho em seus olhos.

- Quem são vocês? Cadê minha família? AAAAAAAAAAAAA! – gritava Nonó, enquanto tentava se libertar daquela estanha criatura.

- Mãe! Sou eu! – Dizia o suposto Odimar. – Cadeira, cachorro, pedrinha!

- Cadeira, cachorro? Pedrinha? Do quê você está falando? – Nonó não conseguia mais entender o que ele dizia.

- Mato da porteira, azul cor de peixe. – Disse o estranho Odimar. – Hospital, chegando estamos.

As lágrimas começaram a descer dos olhos de Nonó. O que estava acontecendo? Sacis, Mula sem cabeça e seu filho, falando de forma desconexa.

- Eu quero ir pra casa! Quero a minha família! Alcebíades! Odimar!



CONTINUA...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MAMAPRESS

Essa publicação é do meu amigo, Marcos Romão. A frase do dia é sobre a filosofia do governo: “Para cada ação uma reação e grito de passarinho se cala com tiro de canhão”.
Valeu Marcos!

O Brasil, Dilma e Cabral precisam de bombeiros.

A presidente Dilma ainda em campanha em Hamburgo 2009
 
Conversei em Hamburgo semana passada, com um amigo ativista como eu, do movimento negro há mais de 40 anos. Sua filha de 23 anos, mãe de uma criança de 5 anos, foi executada com um tiro na cabeça em Salvador.
Aconteceu em plena luz do dia, 11 horas da manhã, 3 homens foram buscá-la em casa. Sairam sorridentes, disse uma testemunha.
O carro féretro percorreu 300 metros e parou em um terreno baldio, disse uma segunda testemunha, que reparou apenas que conversavam amigavelmente e seguiu adiante. Minutos depois viu o carro passar com apenas tres ocupantes. Desconfiado foi até o terreno e encontrou a menina já morta com uma bala na cabeça.
As infomações é de que ela andava com más companhias, traficantes talvez. Assunto encerrado para as autoridades.
Seu pai estivera um mes ante no Brasil, comprara um passagem para que ela viesse para a Europa. Pressentia o pior para sua filha.
Andou em más companhias, fez isto, fez aquilo é o que cada pai e cada mãe, de cada um dos 50 mil adolescentes e quase adultos mortos violentamentamente no Brasil, ouvem das autoridades.
O que era o chicote corretivo antes do Brasil correto, é hoje bala de super trezoitão no Brasil democrático. O tratamento social de nossos jovens mudou de ruim para pior. Para todos os problemas a resposta é bala. O Estado só conhece uma lei: “Para cada ação uma reação e grito de passarinho se cala com tiro de canhão”.
O pai da menina ainda não chorou. Ouvi pessoalmente relatos de vítimas do holocausto, que o absurdo da situação de extermínio era tão grande, que as lágrimas não estavam preparadas para responder com o choro.
Sei que ele talvez leve muito tempo para reaprender a chorar, para chorar a morte estúpida de sua filha. Eu chorei por ele.
Aprendi a chorar depois de velho, o choro indignado com a ignomía e injustiça. Que bom poder me sentir vivo e não anestesiado pelo terror das milícias e corrupção generalizada, que nos atinge enquanto brasileiros a 12 mil Km de distãncia, como se eu estivesee andando em uma rua de Salvador.
Os conselheiros da presidente e dos governadores e autoridades de meu país precisam reaprender a chorar. Chorando talvez aconselhem melhor e parem com as truculências e as balas, e deem exemplo aos nossos jovens, que é possível comportar-se de outra forma que não seja através da violência.
Em um ato talvez mal aconselhado o governador do Rio de janeiro reprimiu brutalmente os bombeiros de meu estado natal. Infelizmente ele não está sózinho em sua ação. Representou apenas os desmandos coronelistas que persistem e voltam a crescer em nossas cidades e no campo.
Precisamos de bombeiros em todas as instâncias de nosso país. Das escolas a alta magistratura, dos lares aos quartéis. Gente que converse e salve e que não mate.
A filha do meu amigo, meus filhos, os filhos e filhas de cada um vão nos cobrar um dia a nossa ignorãncia. Vão cobrar a nossa falta de sensibilidade para conversamos e darmos um basta na violação do mais intimo de nossas vidas, que é a nossa dignidade de ser humano.
Ainda é tempo. Não é mais momento para trocarmos acusações, é momento para agirmos.
Marcos Romão
 
S.O.S BOMBEIROS#Rio Vermelho:
 
http://www.youtube.com/watch?v=fxWtWLo8Ax0&feature=player_embedded
 
MAMAPRESS:
 
http://mamapress.wordpress.com/2011/06/15/o-brasil-dilma-e-cabral-precisam-de-bombeiros/
 
 
 
 

quinta-feira, 16 de junho de 2011

IMPORTANTE

Salve, galera!


   A escola pública está sendo sucateada. O governo promove concursos sobre concursos e, mesmo assim, faltam professores em diversas escolas públicas. Querem que o filho do pobre se mantenha na ignorância.
Não há maneira mais fácil de controlar a classe operária. Manter seus herdeiros na ignorância...

Segue abaixo, um email enviado por Winter Bastos, do blog Expressão Liberta. O assunto é de suma importância. Leiam.

 

Greve da Rede Estadual de Educação

(por SEPE Regional 8)


Diz aí: afinal quem prejudica os nossos alunos das escolas estaduais? Quem discrimina e ataca nossas crianças e jovens? Não é a greve!

As escolas estaduais estão em greve e, quando isso ocorre, sempre dizem: “Os alunos ficarão prejudicados”. Mas, afinal: quem está de fato prejudicando nossos alunos? Leia e descubra quem são os verdadeiros culpados.


O governo diz: “Contratamos professores”

Mas a verdade é que:

1) Quase mil professores abandonam a rede estadual (todos os dias!!) por causa dos péssimos salários.

2) Turmas ficam sem aula por falta de professores. Ou têm vários professores da mesma matéria durante o ano, por causa do rodízio frequente – isso prejudica o aprendizado.

O governo diz: “Climatizamos as escolas”

Mas a verdade é que:

1) Empresas ganham com o aluguel dos aparelhos e na maioria das unidades eles não funcionam porque (como não há investimento nos prédios) a rede elétrica não aguenta.

2) As salas de aula são superlotadas e, mesmo que fossem climatizadas, o excesso de alunos continua prejudicando a qualidade do trabalho do professor, a saúde de todos e o aprendizado do aluno.


O governo diz:“Informatizamos as escolas”

Mas a verdade é que:

1) Compraram laptops superfaturados (com conexão lenta que só funciona de madrugada) que não trabalham pelo professor, porque só humanos podem educar humanos.

2) A escola da internet não é a escola da vida real. Pela internet a SEDUC manipula informações, proíbe registrar que o aluno não teve professor e inventa notas que ele não teve!


O governo diz: “A escola está estruturada..."

Mas a verdade é que:

1) Não há funcionários, pois só houve um concurso para funcionários de escola em toda a história da rede estadual!

2) Para “dar” o brinde ANUAL, o governo quer contar até alunas grávidas e alunos com histórico de delinqüência! Pra que? Para jogar a culpa nos profissionais por problemas sociais?


E o mais perverso: o governo gratifica direções de escolas que queiram “se livrar” dessa juventude, desistir deles, aprovar de qualquer maneira para aumentar o IDEB e para não perder o brinde de fim de ano!

Diretores e diretoras: CORAGEM! DIGAM NÃO A ESTE PAPEL INGRATO E COVARDE COM NOSSA JUVENTUDE! NÃO PODEMOS SER CÚMPLICES DISSO!
A SOCIEDADE PRECISA SABER DA VERDADE!

PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ESTADUAL EM GREVE EXIGEM:
1) Um reajuste emergencial de 26%;

2) A incorporação imediata da totalidade da gratificação do nova escola (prevista para terminar somente em 2015);

3) A regulamentação dos animadores culturais;

4) O descongelamento do plano de carreira dos funcionários etc.

VAMOS DENUNCIAR ESTA COVARDIA COM A EDUCAÇÃO E COM A SOCIEDADE DO ESTADO DO RIO!

(texto retirado do blog SEPE Regional-8: http://seperegional8.blogspot.com/, reproduzido no blog Expressão Liberta - www.expressaoliberta.blogspot.com, aguardando que você também o publique em blogs e envie a seus contatos de correio eletrônico)

domingo, 12 de junho de 2011

Isaac Newton

 
Por: Alexandre Mendes

Dois amigos e o começar
sentados sob a copa de uma árvore
vendo o céu azul suave
e o sol a despontar
corre corre, correria
família, papelada
prova e monografia
encararam, na marra
Penso eu, pensa você
eles, também, assim pensaram
agora é mole, caminho largo
mas, na cabeça, eles tomaram
Sentados sob a copa de uma árvore
desfolhada pelo tempo
puseram as contas sobre o mármore:
Sonhos que voaram com o vento
Corremos, corremos
e acabamos por aqui
vendo o tempo passar
só nos resta sorrir...

sábado, 11 de junho de 2011

TRATAMENTO DE CHOQUE



A CLOCKWORK ORANGE SUMMARY PART 2 LARANJA MECANICA SLIPKNOT


Que país é esse?

Por: Alexandre Mendes

Se você quiser ver um lugar que lembra muito o Brasil, assista o filme "Quem quer ser um milionário?"  (Slumdog Millionaire, 2008). A paisagem indiana e os problemas sociais apresentados no filme lembram, em muitos aspectos, a desestruturação socioeconômica brasileira.
Uma parte do filme que gostei muito é aquela em que o menino leva os turistas para uma favela próxima a um rio e, enquanto discursa sobre a importância cultural daquela sociedade, com os turistas, seu irmão mais velho e outros delinquentes juvenis depenam o carro dos gringos. Quando eles voltam para o carro, um policial indiano aparece na cena, bicando a cara do menino que se passava por guia turístico (Jamal Malik). O ápice da cena é quando o garoto diz enfurecido, ainda no chão, ferido pela botinada nos cornos: "- Vocês não queriam conhecer a verdadeira Índia!"
   Me lembrou dos filmes nacionais que retratam a realidade social nas favelas brasileiras.
Assistam!









quinta-feira, 9 de junho de 2011

NADA

Por: Alexandre Mendes

Quem nunca viu, venha ver. Não, não é nenhum caldeirão sem fundo fervendo!
 O que segue abaixo é o fanzine "Nada- Ensaio Filosófico do Profeta Nihildamus."
Abram as páginas e reflitam sobre o pensamento desse Profeta do Abismo.





terça-feira, 7 de junho de 2011

Sol e Lágrimas - Cap. XV



Por: Alexandre Mendes



O réptil rastejou completamente para fora da palha, levantando a cauda e inquietando o cavalo. Nonó despertou rapidamente com a presença da cobra. Observou os anéis coloridos na parte dorsal do bicho e deduziu ser uma coral. Ergueu a pistola na direção da cabeça da cobra e, sem pensar duas vezes, apertou o gatilho. Para o seu azar, esqueceu de destravar a arma e o engatilhar da peça foi em vão. Assim que a coral pressentiu o movimento brusco, armou o bote rasteiro, mordendo a perna esquerda de Nonó. A mulher deu um grito de dor, acordando Alcebíades e Odimar. O jovem rapidamente sacou o facão da cintura e atirou-se em direção a cobra. Observou o animal e também chegou a conclusão de que se tratava de uma cobra coral. Mirou o facão na cabeça do bicho e desceu a lâmina no alvo, cortando a coral no meio. Sua cabeça se desprendeu da perna de Nonó e caiu no solo, contorcendo-se. Odimar mirou novamente o facão na cabeça da coral, esfacelando-a.

Enquanto isso, Alcebíades socorria Nonó. Observou a mordida da cobra em sua perna e constatou uma pequena marca de presas. Apesar de estarem localizadas no fundo de sua boca, dificultando a mordida, as presas da coral chegaram a cravar na carne de Nonó.  Alcebíades pegou o cantil de água e lavou o local da ferida. Abocanhou a perna de sua mulher, sugando o veneno peçonhento de suas entranhas. Nonó gemia de dor, enquanto Alcebíades cuspia a mistura de sangue e líquido letal. Limpou o céu da boca, fazendo bochecho com a água do cantil. Nesse momento, Odimar pegou a garrafa de cachaça e um trapo, para fazer o curativo na perna de Nonó.

- Calma, mãe. Vai acabar tudo bem. – Disse Odimar, enquanto limpava a ferida com o álcool.

A princípio, Nonó chorava convulsivamente. Assim que a dor cessou, sua perna começou a ficar dormente. Sentiu uma forte falta de ar, fazendo com que se sentasse novamente sobre a palha. Alcebíades pegou uma camisa remendada na bolsa e a abanou na direção do rosto de Nonó, pois percebia a sua agonia.

Odimar olhou para o céu e concluiu que ainda deveria ser meia noite. A manhã demoraria a chegar. Sabia que sua mãe precisava de socorro, mas que não havia a menor possibilidade de prosseguir o caminho no escuro. Acreditava que a cidade de Chiponápolis deveria estar a umas doze horas de onde estavam e, portanto, só conseguiriam socorro no dia seguinte.

Alcebíades pediu ao filho que o ajudasse a colocar Nonó deitada no leito improvisado, pois ela estava desmaiada. Colocou a mão sobre a testa de Nonó e constatou que estava com febre. Molhou a camisa velha com a água do cantil e colocou-a sobre a testa de sua esposa.

-Parece que a noite vai ser longa, pai. – Disse Odimar, enquanto alimentava a fogueira com os gravetos.




quinta-feira, 2 de junho de 2011

GESKIEDENIS

Meu blog com poesias e contos mais antigos:  http://mondelingegeskiedenis.blogspot.com/
Desculpem a demora no tempo em divulgá-lo. É por que eu só o utilizava como arquivo.
Vejo vocês por lá!

A. M.

Sol e Lágrimas - Cap. XIV

Por: Alexandre Mendes



Os dois tinham a intenção de fazer uma fogueira. Nonó ainda estava um pouco afoita, com tudo que havia acontecido. Falava sozinha enquanto catava os gravetos: - Que azar o nosso! Puta merda! Maldito coronelzinho...Filho da puta! – Odimar nunca havia ouvido a sua mãe falando tantos palavrões. Ela havia começado a falar dessa forma, depois que Odimar fora embora. O problema era com Alcebíades. A cachaça tinha tomado conta do seu tempo livre. Nesse tempo, Nonó achava monótono ter que carregar o bebum até a esteira. Fazia gestos estranhos, conversando consigo mesma. Era a sua única distração: debater a vida com o vento.

Alcebíades olhava para ela e meneava a cabeça, como quem dizia ser o culpado daquilo. Já havia parado de beber, há muito tempo, mas os vestígios do vício deixaram marcas em Nonó.

A última garrafa de cachaça  ainda estava pela metade, entretanto, usavam-na agora somente para desinfetar feridas e fazer fogo.

O casal terminou de preparar a fogueira, no mesmo momento em que Odimar acabou de limpar o terreno. O rapaz pegou o isqueiro e a cachaça do seu velho pai. Sacou a rolha com os dedos e deu uma golada na maldita. Jogou o liquido nas folhas, envoltas nos gravetos e colocou fogo. Apesar do último período de chuva ter acabado, há pouco tempo, e do mato ainda estar alto, a secura das plantas já começava a ficar visível. O verde era severamente consumido pelo sol quente. Foi fácil, portanto, acender a fogueira. O temor de que a fumaça chamasse a atenção dos bandidos tomou conta deles.

Decidiram fazer um revezamento de vigília, enquanto descansavam. Odimar destravou a pistola e explicou como ela funcionava para os pais. Ele já havia visto Seu Sebastião treinando tiro ao alvo na fazenda Pirucutú. Decorou todos os movimentos feitos pelo velho, no manejo da semi-automática, enquanto apascentava as ovelhas. Lembrou da correria dos animais com o estrondo dos tiros e, de como ficava cansado com isso.

Alcebíades pegou um pequeno graveto do solo e o dividiu em três pedaços diferentes, posicionando as pontas no punho fechado. Nonó escolheu primeiro e se deu mal, pois pegou o pedaço menor.

- Deixa pra lá, mãe. Eu fico de plantão. Pode dormir. – Disse Odimar, com as pálpebras pesadas.

- Não, meu anjo! Pode ir dormir! Eu cuido da gente. Nunca mais te vi dormir. Pode deixar que eu fico aqui.

Muito contrariado, Odimar deitou-se ao lado de seu pai, com o trinta e oito na mão e a cabeça repousada na sacola improvisada como alforje.

Nonó sentou-se no monte de palha reservado para abrasar a fogueira. Com a pistola segura entre as duas mãos, vigiava o horizonte coberto pela palha seca, clareado pela luz do fogo. Seus pensamentos se afastavam da realidade, devido ao cansaço que tomava conta do seu velho corpo. A tristeza de ter deixado a sua casa e tudo o mais, para trás, não a incomodava mais. “A família está junta, novamente.” – Pensava ela, demonstrando-se satisfeita com o fato.

   A madrugada se aproximava rapidamente e o céu se enchia de estrelas. Nonó tentava manter-se acordada. Alcebíades e Odimar roncavam em um ritmo cadente.

Um farfalhar no mato cortou o canto dos grilos e o ronco dos dois. Uma pequena cabeça de cobra despontou do interior da palha seca, a qual Nonó estava sentada. Seus olhos arquejavam, denunciando o cansaço e impedindo sua atenção. Agora, era tarde demais. A cobra já a observava. Estava bem próximo a ela.