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quarta-feira, 30 de março de 2011

Perdi o sono

Por: Alexandre Mendes

  Era exatamente três horas da tarde. Aguardava a chegada do ônibus no ponto, observando as nuvens que se formavam no céu. Meu corpo cansado, depois de uma manhã inteira de trabalho, bamboleava pedindo um belo almoço e uma cama. O local onde eu estava é considerado um centro comercial, margeado por favelas de todos os lados. Os transeuntes e clientes desse centro são na maioria, moradores dessas comunidades. Os trabalhadores locais que moram em outras regiões estão em menor número, mas quando somados a maioria que perambula pelos bares e lojas locais, naquele horário, fazem lembrar um formigueiro.
  De repente, a minha distração com as nuvens foi interrompida por uma cena inusitada que se desenrolava na minha frente e na de centenas de pessoas que transitavam por alí. Um jovem que se encontrava abraçado em um poste, com todas as suas forças, implorava pela sua vida. Enquanto isso, cerca de seis homens o surravam severamente, tentando levar o rapaz para outro lugar. Uma aglomeração de observadores se formou ao redor, mas, como a maioria daquele público já está acostumado com aquele tipo de situação, dentro de suas devidas comunidades, nada fizeram. Aliás, a multidão só parou para observar porque alí é o centro. Quando esse tipo de coisa acontece dentro da comunidade, o morador normalmente finge que não está vendo.
  A minha pressão sanguinea começou a ficar alta e fui impelido a acender um cigarro: Um dos homens achou um paralelepípedo perdido dentro de um canteiro próximo e começou a bater no rapaz com ele. Foram dezenas de pancadas com a pedra na cabeça, nuca, costelas etc. Parecia não adiantar de nada, pois a vítima, que já expelia sangue pela boca em abundância, ainda implorou por um bom tempo que não o matassem. Uma idéia malígna de seu carrasco pôs fim a questão: Uma pancada muito forte em seu pé descalço o enfraqueceu completamente, fazendo com que largasse o poste. Os homens enfiaram o rapaz em um carro e partiram na direção de uma das favelas próximas.
A essa altura, eu já tinha perdido o sono e acendido o segundo cigarro. Após o ocorrido, fui informado por um conhecido que passava, que a vítima foi acusada de "dar volta" nos outros, dentro da comunidade onde mora.

domingo, 27 de março de 2011

Ao Filho da Exclusão

(Em homenagem a Diego El Khouri)

Por: Alexandre Mendes

Artista desconhecido
o presente, presenteia-o
com o fogo dos céus do Olimpo
trazido por Prometeu
Não te aborreças por Heitor
e a Tróia fragilizada
a peleja irá começar
desembainhe a sua espada



Será belo o dia
em que todos os seres 
e também os não seres
decifrem as tragédias 
que contam em seus dizeres
palavras de sabor trazido das vinícolas
Baco pelo palco a rolar
contemporânea atitude maldita
Sofrer por amor, jamais odiar


Filho...Tu és filho da Exclusão
chinelo remendado de arame
blusa rota de furo sovaco
unha nua na ponta da meia
estômago de infinito buraco


Exclua o filho...
pois deve-se respeito ao pai
Atenas um minuto de silêncio
amor a sabedoria 
e nada mais

sábado, 26 de março de 2011

O RETORNO

Como vão, meus caros amigos? Peço desculpas pela minha súbita e longa ausência. Aconteceu de dar problemas na minha internet e depois de uma longa peregrinação atrás de uma assistência técnica, decidi mudar de operadora. Quanta coisa eu perdi por aqui, não é mesmo? Mas não tem problema. Prometo correr atrás do que perdi, as suculentas publicações dos meus amigos em seus devidos blogs...
  Bom, não perderei mais tempo então. Um abração a todos vocês que acompanham o Peresteca!

Texto e ilustração: Alexandre Mendes

quinta-feira, 17 de março de 2011

Abismo


Por: Nihildamus

Eis a atitude da natureza em resposta a exploração agressiva do homem sobre ela. A vida seguida sob as regras do capitalismo foi substituida pelo pânico exarcebado da população.
A fuga para uma área segura das catástrofes no planeta. Em breve será a única preocupação da humanidade.
O tudo benígno está chegando a um ponto que não suporta mais a ganância e a destruição da humanidade.
O tudo maligno, por sua vez, está chegando ao seu limite de depredação da natureza. Porque o homem não volta as raizes da boa agricultura? Porque não fabricar seu próprio alimento? O consumismo exacerbado deve ser freado até que voltemos a praticar o escambo. Um não convicto a exploração do petróleo para indústria automobilística. E, por fim, digo que a energia eólica é a melhor solução para a preservação do planeta.
A.M.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fernando Pessoa e uma homenagem

Por: Alexandre Mendes


   Ainda lembro de muitas coisas do meu passado que me marcaram. Umas boas, muitas ruins. O passado...o meu, comparo a um domador de cavalos montado em um puro sangue selvagem. A vida presa a uma simples corda no pescoço do animal. Ainda sinto os solavancos do cavalo, mas, a cada dia que passa, mais eu sei como domá-lo. Chamo a isso de experiência pessoal. Fui menino e aprendi algumas coisas da vida pelo amor, no entanto, muitas dessas coisas foram ensinadas pela dor. Ainda admito minha constante necessidade de aprender e acredito que até o fim da vida, eu aprenderei muita coisa.
   Comemorando o meu trigésimo quarto ano por aqui, (12 de março) cito a poesia de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), intitulada "Aniversário". Dedico essa poesia a família que não tive quando menino e especialmente a minha mãe. Se ela ainda estivesse por aqui, as coisas teriam sido bem mais fáceis para mim.
Obrigado


  À Lecy Mendes Vidinha (1946-1995)




Aniversário
Por: Álvaro de Campos
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…

quarta-feira, 9 de março de 2011

Divulgação do Fanzine Gambiarra

Por: Fabio da Silva Barbosa

GAMBIARRA


Quando Alexandre Mendes me convidou para participar deste zine, enviando alguns textos, eu imaginava que ia sair alguma coisa diferente, mas não esperava tanto. Um material organizado e editado com um formato bem diferente de tudo que vemos por aí, nesse mundo digital. Abaixo, colocarei a versão digitalizada para quem não recebeu o impresso e logo depois a resenha que saiu no livro Anuário de Fanzine, da Ugra Press. Se quiser receber essas páginas via e-mail é só entrar em contato com

(FSB)



"Dá gosto de ver zines que, mesmo com as peripécias tecnológicas disponíveis, investem nos caminhos mais orgânicos de expressão. É o caso do Gambiarra, zine com TODOS os textos e ilustrações feitos à mão, mostrando que bons zines podem ser feitos de qualquer modo. Iniciativa de um pessoal ligado ao Impresso das Comunidades, um jornal distribuído gratuitamente nas comunidades pobres do Rio de Janeiro, o Gambiarra tem mais do que clara seu comprometimento com as causas sociais. Mas não espere um tom panfletário: a maioria dos textos são como crônicas que exalam a dura realidade das ruas e favelas, sem sentimentalismo, sem o belicismo classista que em geral é aplicado como a única “solução” possível. Poema do Glauco Mattoso e uma HQ sanguinária complementam esse fanzine que possui o curioso fato de, entre seus editores, contar com um menino de onze anos (o que você fazia com essa idade, hein?). (LM)"

Ugra Press: 
Apóie a mídia impressa alternativa. Compre zines!
http://www.ugrapress.wordpress.com/
 
Para receber a versão impressa do Anuário, contate a Ugra Press.

domingo, 6 de março de 2011

IRMÃOS METRALHA

Por: Alexandre Mendes

Eu encosto                   Eu esmiuço                  Eu acudo
Tu intimidas                  Tu divides                   Tu sangras
Ele rouba                     Ele discorda                 Ele foge
Nós corremos              Nós brigamos              Nós apanhamos
Vós chorais                  Vós  atirais                  Vós algemais
Eles socorrem               Eles deitam                  Eles aplaudem

terça-feira, 1 de março de 2011

Novela Mexicana

Por: Robbie Caputso

O sorriso que brotava
foi banido pela raiva
com origem no desprezo
que você me dispensava

No início, desespero
pelas gotas de amor
transformou-se, destempero
torpe angústia
mau humor

Minha boca que entortava
em formato de um "U"
lembra um "O" amarrotado
Cara de cão; Cara de cú

Sobrevivo, não tem jeito
Porco espinho intocável
com seu grande desafeto
destruiu um ser amável

Se eu chorava convulsivo
e implorava ajoelhado
Meu amor, muito obrigado!
Hoje eu como, cuspo e largo...