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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Acaso

Não estava mais sentindo o chicote estalando em suas costas. Já faziam dois dias que estava amarrado naquela posição.
A dormência, provocada pelo cansaço, substituiu a sua dor.

 - Cinquenta e quatro, cinquenta e cinco, cinq... - Contava em voz alta, o seu senhor.

 - Chiuaf! Chiuaf! - Silvava a vara nas costas do cativo.

 - Ocê num se meti a besta, nunca mais! - Dizia o carrasco, enquanto transpirava de cansaço.

 - Setenta e um, setenta e dois, set... - Lembrou-se da Gâmbia, sua terra natal. Como deveriam estar seus pais? Como deveriam estar todos em sua tribo?

 - Oitenta e três, oitenta e quatro, oit... - Seu senhor contava, enquanto montava no cavalo.

- Mama, mimi...nina... nyuma! Mama,...mimi...nina...nyuma! - Arquejou o jovem escravo.

  Abriu os olhos e viu novamente a sua tribo, formada por todos aqueles que se foram, devido a ganância e a ignorância do homem branco.

  Foi, então, que o seu senhor bateu as esporas no cavalo e sumiu no horizonte, vivendo o resto de sua vida feliz para sempre.

  Por: Alexandre Mendes

Um comentário:

  1. Acaso (versão paralela)
    Por: Fabio da Silva Barbosa

    Não estava mais sentindo o cassetete quebrando suas costelas. O spray de pimenta o cegou e estava cada vez mais difícil respirar.
    A dormência, provocada pelo cansaço, substituiu a sua dor.

    - Esses baderneiros... Filhos da puta... - Comentava o capital

    Os instrumentos eram utilizados sem o menor pudor. O som seco e surdo produzido era indescritível.

    - BADERNEIRO... FILHO DA PUTA... - Berrava, o agressor, enquanto descia o braço.

    Lembrou-se de sua família, do porque resolveu se envolver naquela manifestação. Será que conseguiriam impedir a desocupação? Para onde iriam todos de sua comunidade?

    - Esses baderneiros... Filhos da puta... - O capital cantarolava, enquanto olhava o noticiário da tv.

    - Por favor... Não... Por favor... Eu sou trabalhador... - Arquejou o jovem espancado.

    Abriu os olhos e viu novamente sua comunidade, formada por todos aqueles que se foram, devido a ganância e a ignorância do capital.

    Foi, então, que o senhor capital desligou a tv e encheu um copo de whisky, vivendo feliz para sempre.

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