Por: Alexandre Mendes
As tristes recordações do passado de Odimar foram interrompidas, enquanto ele se aproximava do velho casebre de seus pais. Agachou-se no interior do matagal, na intenção de camuflar-se. Começou a contemplar a cabana e os pensamentos depressivos retornaram a sua mente. Sentia saudades do que não teve a oportunidade de viver, naquele lugar.
As árvores ainda adornavam o entorno da paisagem. A pequena roça de Alcebíades estava do mesmo tamanho; da mesma forma que era, quando ele a viu pela última vez. A porta e as janelas do barraco, feitas com ripas de madeira, ainda mais carcomidas pelo tempo e pelas traças, eram as mesmas. O barro ressecado sobre a palha seca que Odimar colhera pela última vez, afim de retocar a parede, ainda estava lá.
- "Puxa! Que saudades!" - Pensou o rapaz, com lágrimas nos olhos. Lembrou-se do dia em que retornou para a casa dos seus pais. O período de sua vida, perdido no cativeiro, custou-lhe os melhores anos de sua adolescência. Retornou aos dezenove anos para casa. Treze longos anos desperdiçados, enquanto enriquecia o Coronel da região.
A lamentável falta de contato com as mulheres, forçou-o a praticar seus impulsos sexuais com as ovelhas da fazenda. A zoofilia fez parte de sua formação sexual, após os doze anos de idade. Quando chegou aos dezesseis, passou a poupar somente os filhotes. Odimar tinha certeza de que já havia violentado todas as ovelhas mais velhas, quando completou dezoito anos. Por mais que fosse vigiado, dava um jeito de desaparecer, por detrás dos arbustos, com os animais. Ao ser dispensado do serviço de pastoreio, Odimar iludira-se com a esperança de ser livre. No entanto, o amargo sabor da escravidão infantil, foi temperado com o fogo e o enxofre das plantações em que seu pai era servo. Seu trabalho passou a ser o de plantar, colher e, para a sua desgraça pessoal, alimentar os animais da fazenda. Enquanto as vacas matavam a sede no bebedouro, Odimar subia em um caixote e descarregava o seu stress. Enquanto os porcos se alimentavam da lavagem, Odimar aliviava o peso de seus testículos. O problema veio a tona, quando as galinhas começaram a aparecer mortas. As coitadas não conseguiam resistir ao furor sexual do rapaz.
O caso foi investigado pelo capataz Olivença. Ao ver as marcas do evidente estupro, o feitor acusou Odimar, perante o patrão, que acabou declarando a pena de castração para o rapaz. Felizmente, a punição fora reduzida para expulsão da região, após a incessante súplica de Nonó, que viajou a pé, durante uma semana, até a sede da fazenda, pedindo a clemência de Seu Sebastião. Por isso, Odimar tinha a consciência de que, se a sua vida havia sido poupada, foi por intermédio de sua mãe. Aquele momento era a oportunidade de retribuir o favor, salvando a vida de Nonó.
Odimar ainda contemplava a cabana, quando percebeu, entre os arbustos da lateral direita, um cavalo puro sangue pastando no local, amarrado a um pé de manga. Esgueirou-se pela mata, até o animal. Observou-o, atentamente, e não teve dúvida: Ele pertencia a Seu Sebastião.
Odimar suava frio e sua respiração era audível. Sacou o revolver da cintura e engatilhou a peça. Caminhou, meticulosamente, na direção da janela entreaberta.
- Não! Não! Me solta, seu cafajeste! - Era a voz de sua mãe, não havia dúvida. Odimar pôs-se de pé, em frente a janela, apontando a arma para o interior do cômodo. Seus olhos avermelharam-se de fúria, ao ver a cena que se desenrolava, dentro do barraco de seus pais: Nonó estava no chão, lutando por sua dignidade, enquanto um velho imundo a subjugava, violentamente, tentando tirar o seu vestido remendado. O estuprador era ele... o próprio... Seu Sebastião